Uma bateria automóvel que morre não deixa saudade. No máximo dos máximos, transtorna a vida de quem é surpreendido pelo súbito perecimento da mesma, já que o carro não sai do sítio para se poder ir com ele à oficina mais próxima (e às vezes não é tão próxima quanto isso) e, mesmo quando reposta, os problemas não acabam. O carro volta a funcionar, é certo, mas o auto-rádio, por exemplo, ainda carece de um código (que nunca se sabe onde ficou) para "dar música" de novo. Perante isto, cria-se um imbróglio a quem tem de sair de casa a meio do prolongamento de um jogo a eliminar, como o Porto - Schalke 04. Isso aconteceu-me e, obviamente, tive de improvisar. Peguei no transistor que "dá música" à casa de banho todas as manhãs (da mítica marca "Palito" - a mesma dos radiozinhos vendidos junto ao velho Estádio da Luz, "p'ra ouvir a bola", ao Domingo à tarde), juntei-lhe os auscultadores e 'bora lá, para o carro com bateria nova e rádio-mudo-e-calado-até-se-encontrar-o-código. Há em tudo isto uma certa nostalgia. O tempo do transistor "p'ra ouvir a bola" passou e não voltou. No máximo dos máximos, agora é um leitor de mp3 (com uns quantos gigas para ficheiros de som e video e não-sei-mais-o-quê, mas também com Função FM) a ajudar o adepto no estádio a decifrar quem foi o caramelo que atirou tão por alto à baliza do outro lado do relvado. Dificilmente é a mesma coisa. Quem gosta de bola à antiga até gostaria de voltar a ser obrigado a ajustar a anteninha do transistor (comprado na banca dos cachecóis e das bandeiras antes de entrar no estádio) de 5 em 5 minutos para depois poder estar mais irritado e insultar melhor o caramelo que atirou tão por alto lá do outro lado. Um ritual que com o tempo (e o desaparecimento do transitor dos estádios nacionais) praticamente se perdeu também. O Porto foi aos penáltis, perdeu e saiu da Liga dos Campeões. Sei-o porque ouvi tudo no "Palito", em directo, no carro. Que não haja dúvidas que lamento o afastamento da equipa portuguesa da competição (e mais da maneira que foi). Mas, da noite europeia (ainda que negativa), fica o agrado de, por alguns minutos, ter voltado a vibrar com as emoções da bola, transmitidas pelo mítico transistor, que a tecnologia teima em ostracizar progressivamente.
PS: O código do auto-rádio ainda não foi encontrado e continua "a monte", em paradeiro desconhecido.
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