No passado fim-de-semana fiz pela primeira vez o trajecto a pé entre o Estádio de Alvalade e o Estádio da Luz. São cerca de três quilómetros. Tendo em conta que os fiz na companhia três claques ditas “organizadas”, foram aquilo que se pode chamar de um “belo passeio de sábado à tarde”. Não aconteceu nada de especial, a não ser uns arrufos (habituais nestas coisas) entre adeptos contrários pelo caminho e à chegada. Ainda assim, esses 3km e o espectáculo do futebol passavam bem sem esse outro espectáculo que é o do ódio inexplicável, aparentemente motivado por um simples jogo com uma bola de couro e 11 jogadores de cada lado.
Ora, no sábado, Benfica e Sporting encontraram-se pela enésima vez, o que quer dizer que não houve qualquer distância entre eles… Mentira! Houve. Pelo menos em golos, houve. Mas não só.
No Sporting, acima de tudo, pereceu haver uma distância considerável entre o «peito aberto» proclamado por Paulo Bento na antevisão ao jogo para motivar a equipa e o que, de facto, se passou em campo. Os leões não foram uma má equipa mas, a espaços, como que se encolheram o suficiente para que o Benfica chegasse sempre com mais perigo à baliza de Rui Patrício do que os seus avançados chegavam à de Quim.
O que se viu foi que o discurso motivacional de Paulo Bento acabou por não resultar… no sentido que queria. Mas resultou noutro. Motivou… os jogadores adversários.
Nisto, Quique Flores foi exemplar. Falou depois de Bento e teve a hipótese de ripostar. À questão de o treinador do Sporting nunca ter perdido na Luz (que o levava a rumar ao dérbi de «peito aberto»), o técnico encarnado respondeu dizendo que preferia o caminho da humildade e que as estatísticas existiam para serem contrariadas. No final do jogo, o discurso dos jogadores do Benfica passava todo por aí, dando conta da primeira derrota do treinador verde e branco na Luz e do romper com aquela estatística em particular.
Contas feitas, a distância pontual entre Sporting (até ali vitorioso) e Benfica (que ainda não tinha convencido) diminuiu de quatro para um ponto. O Porto também aproveitou para se aproximar e, quando o dragão for a Alvalade, ver-se-á se a primeira derrota dos leões no campeonato não degenera também na segunda.
No final do jogo de sábado, questionado sobre isso, Paulo Bento disse que ainda havia uma distância de oito dias até esse clássico. Mas essa distância também diminuiu. Faltam agora dois dias.
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* Crónica publicada simultaneamente, a 3 de Outubro de 2008, no jornal
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