Há cerca de seis anos, a 7 de Maio de 2002, Luiz Felipe Scolari tornou-se (praticamente “da noite para o dia”) conhecido em todo o Mundo ao deixar um senhor chamado Romário fora da convocatória da selecção brasileira para o Mundial da Coreia e do Japão. A coisa (como se diz no Brasil) ficou “preta” para o “Felipão”. Houve manifestações populares, até o Presidente da República tentou demover o treinador e toda uma nação encarou reticente uma competição que acabou por ganhar. Scolari provou que tinha razão.
Estamos em 2008 e o técnico fez a sua terceira grande convocatória ao serviço da selecção portuguesa. Maniche – um dos esteios das “quinas” no Euro 2004 e no Mundial 2006 – ficou de fora. Não houve nem consta que venha a haver manifestações nas ruas… e Cavaco Silva não parece que venha a meter-se nos assuntos da selecção.
No entanto, mesmo com seis anos de diferença, a ideia que Scolari passa para jogadores e adeptos é precisamente a mesma: ele leva quem quer e não quem eventualmente possa pensar que está “garantido” na equipa ou que seja da preferência do povo. É nestas horas que Scolari (o amigo que defende os sues jogadores até à morte, como ele próprio garante) se torna “Felipão”, o “sargentão” que leva sempre a dele avante, normalmente com resultados para mostrar. O Brasil foi campeão do mundo em 2002, Portugal vice-campeão da Europa em 2004 e 4º no Mundial há dois anos atrás. O resto, poder-se-á dizer, é só “conversa”.
Desta vez, para a Suíça e para a Áustria, Scolari leva mais avançados e menos médios do que seria de esperar. Mais defesas direitos do que esquerdos (curioso é que Jorge Ribeiro, irmão de Maniche, é o único lateral esquerdo de raiz a ser convocado – uma espécie de prenda de consolação para a família). Há onze estreantes em grandes fases finais e diz-se que há juventude a mais e “capitães” a menos para dar voz de comando em campo. Mas uma coisa é certa. Com a “subtileza” que é deixar de fora um dos símbolos de senioridade e capacidade de “combate” da equipa, “Felipão” só está a dizer uma coisa aos 23 eleitos: quem precisar de crescer, que cresça já, porque vai ser precisa gente “grande” para lutar.
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* Crónica publicada simultaneamente, a 16 de Maio de 2008, no jornal